quinta-feira, 25 de julho de 2013

Babu e a vingança maldita




Talvez seja um dos melhores e pitorescos títulos que eu já vi na minha curta e “respeitável” vida de cinéfilo e critico amador. Babu e a vingança maldita deixa um tom de curiosidade no ar, quem é Babu? Como é sua vingança maldita?  E se um filme não tem nota no Imdb, já sabemos que encontramos um tesouro perdido, ou ninguém teve coragem o bastante para dar uma nota digna para essa perola. Pois cabe a mim fazer uma critica/resenha/review/analise cuidadosa dessa obra.

Feita pela empresa independente Cesar Nero, Babu e a vingança maldita é um longa de terror lançado em 1996. A empresa está sediada em São Paulo e pelo que me parece no site oficial dela ainda tem alguns projetos em produção. O filme em questão foi o primeiro lançamento da produtora. E se seu primeiro filme é como esse, não tenho palavras para descrever o que eu espero do resto da carreira.

Que melhor maneira de começar um filme, do que imagens estáticas ao som da opera Carmina Burana (que sempre deixa tudo épico, respeitável e assustador), com um sujeito citando frases sem sentido, uma poesia macabra que pode fazer algum significado alem de parecer que queriam fazer uma introdução sinistra e cabeça, ou eu sou burro demais para entender. E pra brindar com chave de ouro esse começo épico, o filme garante em letras garrafais que o ritual e todas as invocações vistas no filme são extraídas do verdadeiro livro negro do satanismo.

Inclusive os créditos iniciais são escritos em inglês, algo que eu não entendo o motivo.

A primeira coisa que vemos no filme após isso é uma mulher reclamando para a câmera sobre a morte do filho. Antes que o espectador fique nervoso pensando que matou o filho alheio, descobrimos que ela esta falando com nosso lendário e querido Zé do Caixão/Coffin Joe (como é creditado no inicio)/José Mojica Marins.Normalmente eu não reclamo da atuação do Mojica, tem o certo charme todo o lance teatral , mas aqui parece um pouco forçada.Desculpe Mojica, eu amo seu trabalho, não me processe.

Zé do Caixão, ou seja, lá como o Mojica se chama no filme, mas vamos chama-lo assim, já que ele esta vestido com o personagem que o marcou, ira nos contar uma historia que jura que após ela não seremos a mesma pessoa. E é sério, só pelo inicio do filme já não sou a mesma pessoa.E só pelo inicio já desisti de muita coisa, bom, vamos aos rituais satânicos e vinganças de uma vez.

Falando na atuação do Zé do Caixão, ele mais uma vez age como um ser onipresente, que parece saber mais do que esta acontecendo que os personagens. Isso me lembrou de que sempre quis ver ele num papel igual ao do Bela Lugosi em Glen ou Glenda do Ed Wood.

Mas caso queiram seguir alguma historia, é dito que saberemos a verdade sobre a morte do filho dessa senhora.

Há uma cena em que dois homens conversam no que parece ser o bar mais vazio de todos, é um lugar limpo e tal, mas ate o bar do Moe nos Simpsons pareceria um lugar mais convidativo, pelo menos lá você encontra bêbados divertidos. As pausas que eles fazem entre uma fala e outra nos dão tempo de respirar e dos atores fazerem algo que parece estarem decorando o texto, é sério, acontecem espaços enormes de tempo em que os atores fazem nada antes de dizer suas falas. E eu fico aqui torcendo que tudo não passe de uma bela pausa dramática.

Eu não recebo nada escrevendo nesse blog, mas descobri agora com esse filme que com o dinheiro da aposentadoria não da nem pra limpar o rabo. Nada melhor que um filme de terror barato para nos educar sobre os tristes males de ser aposentado no Brasil.

O ritual satânico em questão é visto logo no filme e é ate que bem verossímil, eu nunca fui num ritual satânico de verdade, mas posso dizer que eles se inspiraram em fontes certas para realizar essas cenas. A figuração, a fotografia, os efeitos, a atuação, tudo te leva para debaixo das profundezas do inferno dos filmes ruins.

E veja só, isso acontece mais ou menos em dez minutos de filmes, ou seja, ele entrega logo o que o publico gosta. Apesar de que tirando os fãs de Black Metal que encontro, não vejo muitas pessoas implorarem para verem rituais satânicos realistas em filmes.

O ritual é interrompido por um dos homens que estavam no bar na cena em que já comentei, descobrimos que seu nome é Pedro e aquela é uma casa que ele alugava. Ele“mata” o maníaco satânico de cabelo comprido, vamos acreditar agora por isso que ele era um headbanger (heavy metal é coisa do capeta, não sabiam?). Ele desce para o inferno onde vê a imagem que todos esperam que encontrarão nos domínios do lorde das trevas.

Um boneco de demônio, parecido com de pelúcia! Isso mesmo amigos, se um dia vocês descerem ao inferno podem esperar encontrar um demônio de pelúcia. Não tenho palavras para descrever o choque que essa cena me causou. Esqueçam o rosto de Pazuzu no Exorcista, aquilo é um demônio para menininhas, o verdadeiro ser do inferno é visto aqui.
 
O demônio acaba falando com o satanista morto e concedendo uma vingança.Opa,pera ai, agora descobrimos quem é Babu, só falta a vingança maldita!

Só por esse começo você já fica preso ao filme, e não pela historia em si, mas pela qualidade e dês-qualidade da obra. É um ato nobre meu fazer graça de obras como essa, mas ao mesmo tempo reconhecer o fator divertimento que existe nela. Não me culpem, filmes como esse, merecem não serem levados a sério e receberem piadas (e as minhas são muito ruins, eu sei), mas é inegável que você vai se divertir muito mais vendo isso que muita coisa “séria” que existe.

Num espaço de tempo não contado, Pedro acaba alugando sua casa para a moça do começo do filme, aqui descobrimos que seu nome é Julia. Pedro acaba contando uma historia pra boi dormir negando os eventos que aconteceram naquele lugar. Sabe, o velho clichê do terror quando as pessoas chegam numa casa sem saberem nada sobre ela antes. É tão impertinente assim perguntar se não houveram rituais satânicos antes ? Parece algo tão simples e as pessoas sempre esquecem.

Mas Julia acaba alugando a casa com seu filho, afinal, o aluguel estava barato . Mas logo eles descobrem vestígios dos antigos moradores, na forma de um quadro satanista grudado na parede. Para quem jurava que não houve nada na casa antes, o homem que alugou ela deve um pequeno erro de decoração.

Enquanto o tempo passa, mais segredos são descobertos em num clima que, sinceramente, funciona muito bem.

Uma coisa eu tenho que admitir: a trilha sonora, apesar de parecer deslocada, é muito boa. Além de Carmina Burana no inicio, há um bom uso de musicas e efeitos sonoros macabros para ilustrar os momentos mais sinistros.

Existe inclusive uma cena se passando numa sala de aula, como se esse filme já não fosse uma grande aula para todos que estamos assistindo. Uma aula de bom gosto e requinte para todos que tem coração e mente aberta como os leitores desse blog.

Inclusive, acontecem cenas em que a câmera parece não saber o que filmar. Por exemplo, em uma conversa durante o café, a câmera corta para um rato andando em cima da mesa. Os atores não reagem a isso, parecendo que o rato não estava lá naquele momento e fizeram o corte só para assustar alguém.

É triste saber que muitas pessoas não passariam da primeira meia hora de filme,  apenas por esse  não se enquadrar nos padrões de qualidade que muitas pessoas tem, mas não seja preso a isso e se divirta com mais uma perola do horror nacional.

Por isso, não tenha vergonha de ver filmes ruins e rir deles, não tenha vergonha de admitir que aproveitou boas horas vendo tranqueiras, seja livre e feliz pois a vida é para ser vivida.

Texto dedicado ao meu amigo Felipe Martinelli do site http://www.debandalarga.com/ . que me sugeriu o filme, obrigado!







3 comentários:

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  2. Pesquisando na Internet sobre o filme "Babu" que assisti ao lançamento no Centro Cultural São Paulo em 1996, me deparei com seu blog falando do filme. Fiquei surpreso com o grau de desinformação sobre o mesmo, principalmente pra quem tem a pretensão de ser um "crítico" de cinema. Primeiro que acho meio perda de tempo depreciar um filme que já é assumidamente trash. No próprio convite do lançamento do filme, já estava escrito que se tratava de um filme de terror trash, então qualquer crítica já fica meio sem propósito, não acha? Mas vamos ao seu texto. O que lhe pareceram "frases sem sentido" no começo do filme, na verdade são trechos do "Livro Negro do Satanismo", a Bíblia do satanismo, se não conhece, pode adquirir um exemplar no mercado livre, edição especial da Revista Planeta. O fato dos créditos do filme estarem em inglês é porque o vídeo do filme foi feito para o mercado de cinema trash americano, onde há muitos adeptos lá. O filme até hoje ainda é vendido lá em sites especializados. Na cena onde há dois homens conversando em um bar, achei simplesmente bizarro seu comentário. É nítido que não é um bar comercial, é apenas o barzinho da casa de um dos personagens, dá pra ver a prateleira com as garrafas e tal. Sei disso pois meus pais já tiveram um desses em casa há muito tempo quando isso era moda. Na época do filme ainda se usava ter um desses em casa, hoje em dia é algo cafona e fora de moda. A pausa que os atores davam entre uma fala e outra, não é porque estavam decorando o texto. Cheguei a ver uma entrevista com o diretor uma vez, onde dizia que isso era devido a precariedade da edição. O filme, que foi filmado todo em super-8, por falta de recursos foi copiado em u-matic, um formato de vídeo usado em televisão na época e editado em dois vídeos u-matic que não tinham precisão nenhuma nos cortes. Para evitar cortar o começo e o final da falas, acabaram fazendo assim. Pura falta de recurso técnico, como todo o filme inclusive. Sobre o ritual satânico do filme, você comentou bem. Realmente foi tudo retirado do Livro Negro do Satanismo, cada gesto e cada palavra. Também conferi isso no livro. Por isso ficou verossímil. (continua...)

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  3. (continuação) Os personagens do filme como o demônio, o rato gigante e o próprio babu ressuscitado, são bonecos feitos por um "trucador" chamado Otávio Campos, que costumava fazer efeitos assim para a Globo e outras emissoras na época. Creio que já até faleceu. No final do seu texto você comenta que parece que a "câmera não sabe bem o que mostrar" por causa de um rato correndo sobre a mesa. Ali, acredito que tem a ver com o comentário do começo do filme do personagem Pedro quando está alugando a casa para a mulher, ele diz que a casa é cheia de ratos e também para antecipar talvez o rato gigante que aparece no final do filme, e que era na verdade um rato comum transformado por babu em monstro. O fato de ninguém reparar no rato na mesa, talvez fosse para mostrar que a casa tem tanto rato que eles até já se acostumaram, ou para manter o tom de ironia do filme, que em si, como você mesmo disse, não foi feito para ser levado a sério e na verdade, como também o próprio diretor já disse em entrevista, se não me engano no jô soares, ou outro programa que não me recordo, o filme foi feito às pressas para pegar carona na onda do Cine Trash que o Zé do Caixão apresentava na Bandeirantes na época e que era líder de audiência toda tarde. Também já vi o site da produtora que fez o filme, e ao que parece, os projetos mais recentes não tem nada a ver com o primeiro filme, parece que são todos feitos em alta definição com atores consagrados e o site informa que estão construindo um estúdio de 10 mil metros quadrados com cidade cenográfica e tudo, algo bem difícil de se imaginar no cinema nacional atual. Pelo que sei só as grandes emissoras de televisão como Globo, Record e SBT tem isso, não sei de nenhuma produtora de cinema no Brasil que tenha. Dizer que levando em consideração o primeiro filme da empresa, já dá pra imaginar o restante, é forçar a barra demais, né. Espero que minha contribuição tenha sido útil para seu blog. Abraços.

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