quinta-feira, 16 de maio de 2013

À meia noite levarei sua alma, o primeiro longa de terror nacional




Minha introdução pelo mundo do cinema de horror do cultuado diretor brasileiro José Mojica Marins (lembrando que estou falando apenas dos filmes de terror dele, não das pavorosas investidas pornográficas que ele fez nos tempos de vacas magras dos anos 80) foi no começo por simples curiosidade de saber que existia sim cinema de horror no Brasil, curiosidade básica de quem nasceu em tempos errados e costuma engolir em todo lugar que não existiu e nem existe cinema de gênero nacional.Papo manjado de critico e publico que após a retomada tentam fazer um crime pior que a pedofilia o fato de querer fazer filmes de ação, fantasia, ficção ou no caso aqui, terror.

Um pensamento totalmente errado que não afeta somente os realizadores desse tipo de produção nacional, mas o publico.É como colocar uma venda nos olhos que só deixa a pessoa ver o que querem que ela veja.O publico deve ser livre para querer ver o que quer, e alem de tudo, os realizadores devem ser livres para fazerem o que quiserem

À meia noite levarei sua alma é o filme em foco aqui, primeiro longa de terror do diretor e considerado também o primeiro longa de terror brasileiro. Um fato importante para a cinegrafia brasileira, mas que infelizmente não deixa de chegar com atraso, visto a longa tradição de cinema fantástico estrangeiro, vindo deste o cinema mudo;

Logo no começo, temos o próprio Zé do Caixão de frente para câmera citando um texto que mostra sua filosofia:

O que é a vida?
É o princípio da morte.
O que é a morte?
É o fim da vida.
O que é a existência?
É a continuidade do sangue.
O que é o sangue?
É a razão da existência.

Então, temos uma velha bruxa nos alertando para não ver o filme, a partir desse momento você sabe que esta nos velhos tempos em que era gostoso levar uns sustos.

A trama mostra uma cidade do interior onde vive o coveiro Josefel Zanatas (Zé do Caixão), com uma maldade e descrença em dogmas na alma que ultrapassa qualquer limite de moralidade. Seu objetivo maior é criar o filho perfeito, continuação de seu sangue, e para isso, precisa da mulher ideal.

A personificação física de Zé do Caixão é fácil de reconhecer ate para quem nunca viu um filme dele: capa preta, cartola, e longas unhas.

Temido pelos habitantes locais, algo que vemos claramente durante a primeira cena do bar, onde Josefel corta os dedos de um homem que recusa a pagar uma divida de jogo feita por ele.

Por isso, logo nos primeiros minutos, o efeito de filme barato e bobo que ele passa no começo muda e ele se torna uma obra ultrajante, violenta e corajosa, de blasfêmias não só da religião, mas de uma sociedade atrasada pelo tempo e dogmas. Não só pelo personagem de José Mojica ser um filho da mãe violento e amoral que não insiste em violentar e matar quem passa pelo seu caminho, deixando ícones modernos do horror gringo como Freddy Kruger e Jason parecerem menininhas.vEle acredita fielmente no que faz e sua convicção pelos atos horríveis que comete em frete a câmera é tão forte que acaba sendo justificada.

É o típico roteiro de filme B, uma pessoa maluca (Zé do Caixão), buscando seus objetivos a qualquer custo e por isso aterrorizando a população, aliais, por ser filmado em preto e braço ele nos da um clima perfeito de filme clássico.

Claro, não podemos defender de jeito nenhum e nem achar correto os atos de tirania do vilão desse longa, porem, como em todo grande vilão da ficção, seu carisma ultrapassa os atos.É horrível os feitos dele em frente a câmera, mas, maior ainda é seu carisma para conduzir o longa.Podemos dizer certamente que Zé do Caixão rouba o filme cada vez que aparece.

E apesar de ser difícil não considerar ele um vilão, ele foge do clichê por ser totalmente bem construído, e foge do clichê, pois nos vemos não somente o lado do vilão, mas as suas motivações e ponto de vista.Violentar uma mulher para gerar o filho é algo horrível, mas ele mostra o porque de fazer isso.Por isso, todo ato de blasfêmia, de violência, de tirania, é gratuito, mas nunca fora do lugar e injustificável, por mais que sejam absurdos os meios que os justificam.

Mojica tem o famoso caso em que a criatura é mais conhecida que o criador, Zé do Caixão é o monstro de Frankenstein dele, e sinceramente, acho que ele ficara marcado com isso por toda a vida.

Já vi muitas pessoas recusarem ver um filme do Mojica por puro preconceito, achando que ele é a figura que fazia aparições em programas de TV trajando roupas pretas e rogando pragas, figura que o próprio Mojica personificou para não morrer de fome.

Podemos dizer que foi o próprio criador do Zé do Caixão que leva a culpa pela imagem que as pessoas tem dele hoje em dia? Certamente, não posso culpar a falta de informação do publico atual, pois essa informação é tão escassa e o primeiro contado que temos come ela é totalmente errada da sua verdadeira face.

Zé do caixão, a personagem, não é o ser engraçadinho que aparece em festas, ele é um vilão no sentido pleno, e seus filmes são clássicos do gênero, cultuados lá fora por muitas pessoas, onde é chamado de Coffin Joe.

José Mojica, a pessoa, pode não ser considerado um gênio por muitos, mas certamente é um batalhador do nosso cinema nacional.


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