Minha introdução pelo mundo do cinema de horror do cultuado
diretor brasileiro José Mojica Marins (lembrando que estou falando apenas dos
filmes de terror dele, não das pavorosas investidas pornográficas que ele fez
nos tempos de vacas magras dos anos 80) foi no começo por simples curiosidade
de saber que existia sim cinema de horror no Brasil, curiosidade básica de quem
nasceu em tempos errados e costuma engolir em todo lugar que não existiu e nem
existe cinema de gênero nacional.Papo manjado de critico e publico que após a
retomada tentam fazer um crime pior que a pedofilia o fato de querer fazer
filmes de ação, fantasia, ficção ou no caso aqui, terror.
Um pensamento totalmente errado que não afeta somente os
realizadores desse tipo de produção nacional, mas o publico.É como colocar uma
venda nos olhos que só deixa a pessoa ver o que querem que ela veja.O publico
deve ser livre para querer ver o que quer, e alem de tudo, os realizadores
devem ser livres para fazerem o que quiserem
À meia noite levarei sua alma é o filme em foco aqui, primeiro
longa de terror do diretor e considerado também o primeiro longa de terror
brasileiro. Um fato importante para a cinegrafia brasileira, mas que
infelizmente não deixa de chegar com atraso, visto a longa tradição de cinema
fantástico estrangeiro, vindo deste o cinema mudo;
Logo no começo, temos o próprio Zé do Caixão de frente para câmera
citando um texto que mostra sua filosofia:
O que é a
vida?
É o
princípio da morte.
O que é a morte?
É o fim
da vida.
O que é a
existência?
É a
continuidade do sangue.
O que é o
sangue?
É a razão
da existência.
Então, temos uma velha bruxa nos alertando para não ver o
filme, a partir desse momento você sabe que esta nos velhos tempos em que era
gostoso levar uns sustos.
A trama mostra uma cidade do interior onde vive o coveiro
Josefel Zanatas (Zé do Caixão), com uma maldade e descrença em dogmas na alma
que ultrapassa qualquer limite de moralidade. Seu objetivo maior é criar o
filho perfeito, continuação de seu sangue, e para isso, precisa da mulher
ideal.
A personificação física de Zé do Caixão é fácil de
reconhecer ate para quem nunca viu um filme dele: capa preta, cartola, e longas
unhas.
Temido pelos habitantes locais, algo que vemos claramente
durante a primeira cena do bar, onde Josefel corta os dedos de um homem que
recusa a pagar uma divida de jogo feita por ele.
Por isso, logo nos primeiros minutos, o efeito de filme
barato e bobo que ele passa no começo muda e ele se torna uma obra ultrajante, violenta e corajosa, de blasfêmias não só da religião, mas de uma sociedade
atrasada pelo tempo e dogmas. Não só pelo personagem de José Mojica ser um
filho da mãe violento e amoral que não insiste em violentar e matar quem passa
pelo seu caminho, deixando ícones modernos do horror gringo como Freddy Kruger
e Jason parecerem menininhas.vEle acredita fielmente no que faz e sua convicção
pelos atos horríveis que comete em frete a câmera é tão forte que acaba sendo
justificada.
É o típico roteiro de filme B, uma pessoa maluca (Zé do
Caixão), buscando seus objetivos a qualquer custo e por isso aterrorizando a
população, aliais, por ser filmado em preto e braço ele nos da um clima
perfeito de filme clássico.
Claro, não podemos defender de jeito nenhum e nem achar
correto os atos de tirania do vilão desse longa, porem, como em todo grande
vilão da ficção, seu carisma ultrapassa os atos.É horrível os feitos dele em
frente a câmera, mas, maior ainda é seu carisma para conduzir o longa.Podemos
dizer certamente que Zé do Caixão rouba o filme cada vez que aparece.
E apesar de ser difícil não considerar ele um vilão, ele
foge do clichê por ser totalmente bem construído, e foge do clichê, pois nos
vemos não somente o lado do vilão, mas as suas motivações e ponto de vista.Violentar
uma mulher para gerar o filho é algo horrível, mas ele mostra o porque de fazer
isso.Por isso, todo ato de blasfêmia, de violência, de tirania, é gratuito, mas
nunca fora do lugar e injustificável, por mais que sejam absurdos os meios que
os justificam.
Mojica tem o famoso caso em que a criatura é mais conhecida
que o criador, Zé do Caixão é o monstro de Frankenstein dele, e sinceramente,
acho que ele ficara marcado com isso por toda a vida.
Já vi muitas pessoas recusarem ver um filme do Mojica por
puro preconceito, achando que ele é a figura que fazia aparições em programas
de TV trajando roupas pretas e rogando pragas, figura que o próprio Mojica
personificou para não morrer de fome.
Podemos dizer que foi o próprio criador do Zé do Caixão que
leva a culpa pela imagem que as pessoas tem dele hoje em dia? Certamente, não
posso culpar a falta de informação do publico atual, pois essa informação é tão
escassa e o primeiro contado que temos come ela é totalmente errada da sua
verdadeira face.
Zé do caixão, a personagem, não é o ser engraçadinho que
aparece em festas, ele é um vilão no sentido pleno, e seus filmes são clássicos
do gênero, cultuados lá fora por muitas pessoas, onde é chamado de Coffin Joe.
José Mojica, a pessoa, pode não ser considerado um gênio por
muitos, mas certamente é um batalhador do nosso cinema nacional.
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